terça-feira, 27 de agosto de 2013

Eu serei

Que me digam o que fazer
Que me peçam para errar
Que me mandem calar
Porque a vida é por demais louca
E quero vive-la solta, como um bicho nu.

Quero nascer de novo
Quero incomodar com o novo que vive no velho
Despertar o que é eterno
Vivendo da caça neste planeta a cada dia sem alma
Não quero me poluir

Quero que minha inocência cresça, mas não amadureça.
Que o pensar não me pare
Que a razão não me cale
Que o outro seja o todo para mim
Que o todo seja a continuação do fim.

Andarei como uma preguiça, devagar, mas muito viva.
Serei ainda um pássaro solto e bem agitado.
O vento eu serei.
Serei real e imperceptível.
Indispensável, solene e sombrio.

Serei tu em dias
Outro por anos


Eu, em instantes e por engano.

por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ESTOU AQUI!

Estou aqui, ao mesmo tempo sem parecer estar.
Não faço que me vejam, não tenho cores, nem frias nem quentes, só mortas.
Estou vendo, mesmo sem pedir que me tire as vendas, quero que vendam meus olhos.
Cansei de tentar ver o que eu sou. Cansada de ver com olhos de vidro, sem cor.
Não consigo mais aparecer, tanta luz está a me esconder.
Não consigo encontrar um caminho...Não quero perder um carinho.
Quero apenas senti-lo.

Acho que estou lotada, mas não sinto nada.
Apenas um vazio e pó.
Pó de um cômodo esquecido, um rádio velho, um vinil por ai perdido.
Ouço a música que não tocam mais.
Nascida por engano, num período com números demais.
Muitos signos, fracos significados.
Estou perdida nesta magia de ser.

Guardada, achada.
Tão encontrada, que demoraria uma vida para me perder novamente.
Seria eu tão sincera, que nada fosse inventado?
Onde está minha criatividade?
Tão verdadeira que tudo se afastasse sem dizer adeus?
Ah, como um doce sem gosto, um gelo quente, uma mão fria.
Uma respiração rompida. Uma luz que não brilha mais.

Sou um busto vivo.
Minha vida já foi esquecida.
Sentindo-me uma morta-viva.
Escandalizo meus pensamentos, enganados.
Eu me atormento, preciso viver.


Não quero perder.

por Brenda Oliveira.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Currículo- Um desatino


                O que é um currículo, se não apenas um pedaço de papel? Pois a vida é uma carta escrita na pele, em que o sangue transborda animado, em que ao final, uma cicatriz não significa um erro passado, mas sim uma vida que, realmente, se viveu!
Não vejo o ‘porque’ de tanto sofrimento: “não tenho um registro acadêmico”, se na vida você se perdeu!!!
É minha cara amiga, a vida é um gigante que poderá nos esmagar, se formos apenas linhas azuis, em preto ou branco, numa pauta qualquer. Vida sem verdade, amantes que na verdade se traem, vivendo em ré
Tenho dito tudo o que vive e ainda assim não se identifica? Minha ‘cara’... A vida é o não dito, que de tanto dizer, você já não compra mais, pode vir a ser mercadoria vencida.  Acredito que lotou sua mente antes do tempo, ou passou e estragou. Caiu.
Você sabe que não faço o que tu queres, que sou mesmo sem jeito algum para ser de algum jeito. Você sabe que pareço um pouco errada ou destrambelhada, mas isso em mim é só uma capa, uma pele a ser trocada sem sentido algum.
O meu currículo muitos querem escrever, querem que eu seja o que não nasci para ser. Querem que eu veja, pelos olhos dos outros um mundo que não escolhi viver. Querem que eu cante uma canção desafinada, pois insistem que ela tocará a minha alma. Tolice dessa dinastia que nos cerca e tenta nos obrigar a vegetar num pasto de meros animais, para sermos eliminados rapidamente, vivendo numa digestão latente, buscando o riso para não chorar!


por Brenda Oliveira
Obs: Dedico a minha amiga Tiara Sousa!!!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O mundo deles

“Enquanto tudo passa... Eu vou ficando aqui mesmo. Talvez perdido para muitos, Mas sabendo que a cada segundo me encontro perfeitamente”. Isso foi o que ele disse naquela noite quente e fria, dolorosa e magnífica. Sem usar palavra alguma, apenas respirava a resposta escondida.
Ela o entendia, sabia que sua alma era doce e amarga, que por vezes amava como amava o nada.
O tempo para eles não passou ou até passou, mas nem chegaram a perceber.
Ela disse que “sentia-se n’outra dimensão”.
Ele sorriu e apenas tentou ter a mesma sensação, mesmo que parecesse impossível.
Mas há tanto na vida de impossibilidades...
“Foi nisto que você pecou” ela pronunciou, “por quantas vezes perdi, perdi teu perdão!”, mas logo então sorrindo a fez sentir, fez perceber que o gelo uma hora derrete, que a maré, por vezes vaza, mas torna a encher-se, pois não aguentaria viver sozinha, precisa do carinho de um rio, não um rio qualquer, mas um rio que para ela se desse a rir.
Revelou que quando está só ele chora, desmancha e seca. Torna-se pó. Mas se do pó fez-se o homem, “que glória em se desmanchar por alguém”, pensou docemente a moça!
Depois de tanto pela noite adentrar podiam ver-se, sem se olhar, sentir-se sem toque...
Encantado seria o dia, se carregasse no seu sol o calor de uma noite, ao mesmo tempo, que carregasse a luz, numa penumbra de encanto, que revelasse a ambos a beleza que juntos não poderão ver. Que apenas estando distante verão.
Ele a pediu que fosse então o dono do seu mundo... Ela sorriu e deixou escapar um NÃO.
Ambos riram, sabiam o que sentiam, pois sabiam que não sentiam, que apenas achavam, mas que na verdade tinham certeza que da vida que viveram tudo era real. Só o tempo que não. Desgovernado. Mentiroso. Até aliado. Um tanto preguiçoso em passar.
Mas na vida dela tudo passa. Na alma dele tudo fica.
“Você tem carinho pelo tempo?” “Você me ama como o vento?” ou “ Seria melhor que eu desejasse que me amasse como uma rocha?” Ela pensou por dentro. Ele a deixara desarmada, coração ferido, alma incendiada.
“Que susto” acordou gritando. Chorava, pois vivera num sonho, sem dor.
Apenas engano em viver sem sentir. Amar e não poder partir.
“Contigo sempre viverei?” ele a interrogou, mas ela já não podia responder.
O plano da Terra, do tudo, já se desfizera, pois em uma manhã ela se viu
Sem chão, com seu NÃO, a espera do seu talvez.


por Brenda Oliveira.




sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Passo...

Quase sempre penso
Que pensar é um retardo
Um retrocesso que me conforta em fatos
Que quase nunca os narro
Que quase sempre são perdão.

Eu penso
Que quem pensa nada faz.
Aquele que grita se desfaz
E o que achava que pensou fez pouco
Matéria rasa, objeto impessoal de um caso torto.

Ela pensa que pensar é humano
Somos a humanidade por um engano
Um homem mortal que com o tempo
Faz-nos acreditar que num porvir
Faz-nos mentir e ir

Pensamento que passa
Passado que empossa
Há quem possa um dia possuir
Um passado possesso, preso e com raiz.
Uma alma alada que “passaefica”

Uma passada larga
Uma vista rasa de um adeus sem fim
Que transforma a frase em oração
Uma simples palavra virando um objeto indispensável de ligação.

O que são palavras neste passado?
É estar doente, passando mal
Passando bem, passando sem
Sem nada a declarar
Sem um vazio a preencher

Vozes passando por mim
Transmitem o que há
Passando de geração em geração o que fiz aqui
Agora numa jazida gelada de mármore branco
Silencioso e profano passa

A palavra passa
O passado passa
Teu passo que permanece
O teu pensar me enaltece
Mas sinto um drama passeando em mim, sinto que penso.

Sinto ter dor
Sinto o longe e o perto
O direto e o indireto
Do pensamento que ainda nem fiz
Mas que um dia virá.

Por BRENDA OLIVEIRA.