sábado, 26 de outubro de 2013

Pela Noite

 Era noite, enquanto todos dormiam, ela se sentia mais viva, transparente e secreta, como se do alto ela tudo pudesse ver. Adorava fazer a terra viver de verdade, verdade que ela gerava, mas ninguém enxergava. Pensava consigo: para onde iam todos os sonhos que ela criava, será que eram todos abortados, falíveis?
Era de uma fragilidade imensa seu poder, seu querer, pois era sempre esquecida, transparente, incolor. Ela ainda tão inocente, acreditava em contos de fadas, em príncipe encantado.

Temia comer a maçã envenenada.
Cautelosa era para não perder o voo da imaginação.
Temia essa realidade cruel.
Amava a vista que tinha do nada.
Gostava da brisa do vento que nunca chegara.
Gostava quando a dor passava e mesmo assim sofria.
Queria ter dentro dela uma alma, pois a vida por si só não lhe convinha.

Por quase todos os momentos de sua vida, queria ser vista.
Queria ser uma voz que desabafasse.
Querendo ser tantas em uma só.
Uma dama, uma rainha, a plebeia adormecida, do branco que desbotou.
Sua vida era crescente, a cada dia mais próximo de outra vida.
Não pensava em ser outra, se nem nesta vida podia ser alguém.
Só queria um risonho-sereno, uma gargalhada rasgada no vento
Cheia de dor e alento, vindo sem querer chegar em lugar algum.

Menino queria ser.
Não amando, mas sendo.
Querendo correr e brincar sem ter em quem depositar o medo que guardara consigo.
Menino queria ser.
Pois o desvio do vento o deixaria com direção, para ir onde nunca pensasse
Onde o amor só amasse e o medo medroso não o amedrontasse.

Queria apenas sorrir.
Fingir que amou.
Ter na vida o que ela não quis.
Roubar seus próprios sonhos e dormir como em todos os dias.
Ser perfeita na imperfeição dos dias.
Levar uma vida escorregadia.
E sofrer por amor.
Sofrer sem dor, sendo um menino sozinho, à espera de uma vida para viver.
Lembrando do que queria esquecer.


por Brenda Oliveira.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Essência

Sou do tempo
Que o amor era poesia
O verso uma sinfonia
A declamação, o viver
Sou do tempo
Em que flores eram vida
Em que a tristeza refletia alegria
Em que o romance era poesia

Minha alma
Não pertence a esse mundo
Aqui sou apenas um moribundo
A procura do amor
Minha alma
Esta solta e aprisionada
Fica perdida e é encontrada
Nos fragmentos a se decompor

O meu tempo
É devagar e acelerado
É doce e amargurado
É tímido e sedutor
O meu tempo
É a favor da vida
É contra as brigas
É um NÃO a procura...

Eu sou
Um livro aberto?
Sou segredo, sou secreto
Sou tesouro amaldiçoado que ninguém levou
Eu sou
O vento que bate
O som na imagem
O grito que cala, que ama, que parti.

por Brenda Oliveira.





sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fui pequena

Quanta saudade do tempo de criança, em que a chuva era um acontecimento histórico. Em que brincar de ser adulto era interessante.
Sinto saudade de não precisar ter saudade de nada.
Sinto saudade de me sentir sempre pequenina, um botão de rosa, sempre baixinha ao lado dos meus pais, apesar de saber que para eles, eu sempre serei a baixinha, o botãozinho de rosa.
Quando criança o mundo é um grande presente, em que abrimos no decorrer dos anos, mas que podemos chegar a gostar ou não, do que receberemos dele.
Saudade de ser pequena, pois acordar cedo era uma ‘onda’, meus pais que o digam:
Atenção senhores passageiros com destino ao Pax”, ai a escola, quanta saudade desses tempos, desse momento da vida que não volta mais, onde tudo era poesia, prosa, cantiga, nada mais.
Sinto saudade de ser criança, porque criança não se difere, criança só é criança.
Mas por mais que eu sinta saudade, eu sei que nem tudo passou. A minha alma ainda é pequenina, a criança ainda não morreu aqui dentro.
Por isso eu rio sem medo, eu choro e amo e até enfraqueço de tanto amar.
Eu encanto e desencanto, eu apenas amo, porque amar é coisa de criança também, elas amam mais.
Eu não quero crescer nunca, eu só quero continuar vivendo a vida, brincando na rua sem a preocupação com o depois.
A chuva que antes era encanto, hoje é lembrança.
Sinto saudade das outras crianças, que assim como eu cresceram, que foram embora e me deixaram aqui.
Sinto saudade da eternidade que eu sentia ser, que eu podia tocar e viver.
Saudade de ser uma ‘Super-heroína’, de pensar que a minha Rosa é única, que a minha terra é Nunca e que a cachoeira é a lágrima de uma bela e boa deusa, e eu nem sei se pensei nisso.
Saudade, apenas saudade.
Saudade da inocência que hoje se perde desde pequeno.
Saudade de acreditar, sem titubear, que somos capazes, capazes de sermos sempre...
...eternas crianças. Só para amar.
Porque para a criança o amor é o concreto, é o belo afeto, que tocamos com um abraço.
Eu passo. O desejo que um dia eu tive de crescer.
A brincadeira singela de ser ‘gente adulta’.
A madrugada que, já não mais, me assusta.
A loucura de não ser feliz.
Mas quero poder nascer de novo. Viver tudo de novo, do jeitinho que vivi.
Eu fui e ainda sou criança.

por Brenda Oliveira.