segunda-feira, 7 de abril de 2014

Um futuro: morte

Morro em cada dia. Morro em essência. Desfaleço sem medo de nunca mais voltar. Essa morte me caça, me pega fazendo-me dizer adeus aos poucos que ainda são meus, ou eu achei que fossem.
A morte é como o pôr do sol: leve, bonito, mas não volta. No outro dia será outro sol que irá se pôr, eu já estou posta numa ‘caixa’ escura, num cantinho sem honrarias, onde só os vermes me encontrarão.
Meu corpo será mutilado, pelo tempo e pelo espaço que não mais dominarei. Meu corpo será novamente pó, será poesia perdida, que jamais voltará a ser recitada ou escrita. Talvez esse corpo morto, seja o reflexo do que um dia eu não quis ser. Eu sempre fugi da morte. Sempre amei a vida, mas pequei, acreditei pouco...

Imagem: Александр Коблов

Esta sorte morre comigo. Esta sorte já deixou de ser...  quando permitiu que eu me deitasse, para nunca mais acordar. Nesta noite pedi insônia, por sentir o que estava por vir, mas o que pude receber foi um desmaio, um profundo sono, que me imobilizou e me fez ser perdida de mim, dos outros, do mundo.
Morrer seria apenas morrer, se não causasse tanta dor. Morrer me lembra: luz apagada, vela queimada e um rio a correr, sem margens aos lados, sem fundo, com tudo e nada mais. A morte é similar à física, que para mim é um tanto incompreensível. Uma conta que não saberei nunca resolver. Uma história que nunca aprendi.
O que ainda posso entender da morte, é a sua geografia, já que esta se refere ao meu corpo, que se desintegra a cada dia, noite, horas, que são torturas aos outros, pois a mim a dor já não pertence. Na verdade, já não pertencerei mais a mim. Serei da terra, serei alma, estarei gélida a chorar pela minha morte.
Um choro que também morrerá, pois em poucos dias ou apenas depois de anos, essas lágrimas secarão. As lembranças ficarão sem cor, sem vida, mortas como um dia estive, pois nem em memória existo mais. As fotos não existem. Papel já é coisa rara. Os risos da madrugada não terão o mesmo brilho de anos atrás.
Eu sei que essa dor você vai perder, mas que em alguns dias, ela virá sem ser bem vinda e roubará teus risos, te deixando em prantos, por uma vida que não conseguiu ter ao meu lado. É difícil relembrar um passado, mesmo este sendo tão bonito, tão frio, tão inacabado. A morte que me leva hoje será a mesma que se casará contido um dia. Ela me roubou primeiro. Foi bem ousada, eu diria.

por Brenda Oliveira.