Em alguns momentos da vida, sinto que
meus olhos me roubam, me expõem, me entregam sem medo. Os meus olhos que nada
percebem no físico, mas que enxergam as almas. Olhos que viajam e perfuram as
paredes da razão. Olhos incansáveis de buscar entendimento no que ainda é
apenas ilusão.
Esses são os mesmos olhos que compõem
um corpo induzido brutalmente ao escultor mais moderno. Olhos que com o
levantar dos cílios cantam canções eternas de romances nunca vividos, de carinhos
perdidos, ou não. Olhos castanhos ou apenas dourados que brilham nas madrugadas
eternas, perdidas entre os amantes e do perfeito e solitário ser-paixão.
Quando os meus olhos encontram outros
olhos, o mundo perde o chão- razão sem solução. É como se a poesia ganhasse
vida, a música fosse um corpo em ascensão, como se esses olhos vissem parte de
desejos que não queria que existissem, por razões que só eu entendo. Vejo que a
dança do coração, são as palavras ditas em confissão com o olhar fixo, porém
perdido dentro de mim.
Se ainda não conseguimos perceber os
outros, um fato é importante citar: Nossa visão está turva, as letras não
compõem mais belas músicas e o poeta morre sem nunca chegar a amar. Os olhos
gelados, secos e amargurados fazem da vida uma eterna sepultura. Covas nas
faces, com brilhos perdidos e apelos esquecidos em tempos cheios de tantos
“Não”.
Ainda existem olhos, que como uma
criança perdida vê poesia onde há apenas a dor da partida, o adeus, o fim.
Mesmo assim, os olhos ainda avançam sinais, dão gritos mortais na luta pela
liberdade das mãos, pela soltura dos “Sins” disfarçados de ‘talvez’. São
grandes luas perdidas pelos dias, vagando nas grutas que escondem os grandes e
negros olhos roliços, verdes, amarelos ou até mesmo esquecidos, que preferem
viver nas dores dos sonhos, dos encontros, dos ‘talvez’.
Podem até parecer maliciosos, mas são
a doçura esquecida de outros olhos que não olhou. De olhos que mandam e
desmandam. Olhos que não pedem, só exigem. Olhos que são peraltas, são perdidos
na vida cercada de uma loucura sagrada, que às vezes vive enferma e teme não
mirar a morte com o olhar e mais uma vez deixar, mesmo que sem querer, ser
assaltada e colocada na prisão perpétua.
Pena de morte para aquele olhar que
denuncia toda a pureza perdida, toda malícia não encontrada, toda história de
vida de um povo que só soube olhar e poetizar através das lágrimas derramadas
pelos olhos das almas e dos corpos tão sãos. Esses olhos são como grandes
nuvens carregadas de fel ou apenas cheios de paixão. Olhos que são de muitos.
Olhos que são apenas meus.
por Brenda Oliveira