sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Panela DE’PRESSÃO
foto: brasilescola

Meses perdidos. Dias de desencontros. Uma solidão sem fim. Um pedaço de mim que foi arrancado ou roubado, ou eu simplesmente o comi. Por horas me sinto invadida, rasgada e ferida pelos olhares de alguém. Sinto-me sem sintomas, mas chagada, lastimada por algo que eu ainda nem sei de onde veio; qual a força e o tamanho que tem. Só sinto que a pressão vai aumentando e os gritos que eu vou soltando deixam de ser apenas sussurros e passam a machucar ouvidos, os meus ouvidos.
Sinto-me abafada pelas palavras que foram ditas, pela amizade perdida, pelo meu desejo sincero de viver, apenas viver e por isso ser culpada, presa e posta em cima da fogueira. Acredito por horas e horas que o gás que possibilitou que os fogos fossem lançados e que me fizeram queimar, baixaram por um tempo, a esperar por minha explosão que por fim não se deu, e que gerou a fome dos egos dos donos do fogo, que queriam me ver gritar e continuar parada, imóvel, padronizada.
O fogo que queima é o mesmo que parece me congelar, pois chega um momento que as dores não são mais sentidas, o grito é algo constante e a paz, por vezes perdida, é encontrada apenas nos sonhos, nos desejos de estar sobre a mesa, de gerar alegria, de fazer-me importante, de ter um sentido real de utilidade, de ser panela e não o receptáculo da pressão e muito menos um corpo disponível para a depressão da alma, da palma, do olhar.
Esse estado vazio costuma atormentar essa panela desde o despertar. Talvez ser panela já não tenha mais tanto sentido, já não seja a razão dos mais loucos vícios do viver. Talvez e somente o talvez seja a única certeza para que as novas tentativas já não sejam tão dolorosas e que os gritos gerados pela pressão sejam ouvidos e agridam os outros ouvidos e não somente os ouvidos dos dias dessa panela de’pressão.


por Brenda Oliveira