terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Sou poeta...


Quando digo que sou poeta, não afirmo a beleza de meus textos, às vezes nem acredito que possam ser tão belos como um dia eu os achei. Vivo num fluxo inconstante. Nem sempre estou estonteante, nem sempre prefiro estar feliz ou até tento, mas...
Acredito que isso que me faz escrever, é o fato de não ter a certeza de mim, nem do outro, e encontrar a certeza num talvez. Eu me encaixo nesta caixa que não se encaixa nos “padrões”. Sou difícil, sou menina e mulher. Sou quem eu quiser ser. Sou sem demora a dor e a chama que outrora quiseram esconder. Sou perdida e encontrada a cada momento que sonho, em cada momento que amo.
Eu tento tanto e nem sempre chego lá. Lá onde, por vezes, nunca sei onde queria chegar. Eu sou pressa e demora. Sou o meu nada exposto ao mundo, tentando ser a todo segundo um pedaço concreto de ilusão, minha ilusão. Eu prefiro não ser uma outra. Ser EU é bem mais interessante. É bem mais emocionante construir minha vida com muita razão, mas tirando meus pés quase sempre do chão.
Eu sou falha. Uma brecha na porta que não consigo abrir. Quando eu paro, eu avanço, pois é neste gesto manso que cresço e pertenço a vida que eu escolhi. Vida que se difere pelo meu modo de ser, de pensar e de entregar-me. Eu sou bem diferente do que eu possa parecer, mas sou igual àquilo que eu sempre quis ser.
Penso, por muitas vezes, que preferiria ser igual a todas as pessoas, mas ao refletir e mesmo sabendo das dificuldades da minha escolha, prefiro ser a louca que não segue a “última moda”, seja ela de roupa, de ações, de pensamentos. Eu gosto do meu jeito de ser. Sofro bastante por ser assim, mas na vida nada são flores e a garantia da felicidade não se encontra em fatos que acontecem do nada e sim na construção de um ideal.
Agora, eu estou escrevendo pela noite, ouvindo os "grilos cantarem". Estou sentada numa cadeira, em uma casa aconchegante, conquista da minha família. Estou sentindo um friozinho. Estou simplesmente feliz, mas um pouco vazia?! Eu até pensei em me deixar sucumbir pelo vazio que estou sentindo, mas nada mais justo comigo mesma do que escrever e perceber que é através dessas letrinhas que vou seguindo a vida, vivendo e brincando do jeito mais doce, mais louco e mais são.
Realmente: “eu tenho tanto pra lhe falar/ mas com palavras não sei dizer”. Apenas pelo dia-a-dia haverei de me descobrir e perceber aquilo que eu sou, aquilo que talvez eu até tenha pensado em esconder. Apenas o convívio dirá a nós quem é está menina, esta mulher que agora escreve, esta louca que é tão careta, tão imperfeita e que tenta tanto conquistar a si mesma e acreditar que é capaz.
Eu quero ser capaz de viver aquilo que sempre defendi, mesmo que essas escolhas me excluam do mundo que o “sistema” criou. Eu pretendo nunca ter vergonha de dançar a minha dança e assim viver, amar e ser amada, com limites respeitados e ver em olhos a admiração pelas minhas escolhas, pelos meus atos, pois sei que aí sim terei a certeza que tanto busquei. Sei, que essa certeza só encontrarei uma vez.

por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

CARTAS

J P de Oliveira- (amalgamacultural.net)

O que fizeram das palavras, tão belas e tão delicadamente desenhadas numa folha de papel? O que fizeram com a dança suave das mãos, que firmes, seguravam um lápis e escreviam sonhos, amores, memórias... belas histórias? Tudo o que vejo hoje, são letras sem vida, sem fulgor, sem amor. Letras que nunca se cansam, que não amam e que não sabem o que é sentir uma “agradável” dor. Letras computadorizadas, erradas, sem calma e com tinta infinita, com mentiras disfarçadas. É... acredito que até aqui resistiu a emoção...agora estamos numa outra forma. Isso é um tanto triste.
Tantas cartas recebi, algumas poucas escrevi. Muitas delas me fizeram chorar, outras tantas sonhar. As letras tão bem desenhadas ou garranchos com erros de “fábrica” fizeram sentir-me viva... importante para alguém ou tola, ingênua, pois as cartas eram assim...um filme que rodava em preto, azul....ou numa página quase em branco, apenas com um nome escrito em um dos cantos... Nunca foram apenas pedaços de papel. Nunca foram fáceis de escrever. Nunca foram fáceis de ler. Sempre tiveram muitos segredos, muitos anos e muitos apelos. Sempre quiseram falar, mas já nasciam mudas e presas num belo envelope, algemadas com cera nobre, escondendo o vigor de seus tempos, e que tempos...
Tempos em que o romance durava uma vida, a paixão jamais se arrependia e o medo era a rebeldia de quem não sabia amar. Tempos em que a espera era o florescer de uma rosa: tímida, perdida, porém determinada e pontualmente encontrada. Encontrada pelos olhos certos, castanhos, pretos ou amarelos... Olhos que viam além das tintas, além das palavras escritas, além das ilusões.
Como não sentir saudade de um tempo poeta?! Tempo que não tinha pressa para encontrar, resgatar ou se perder por amor. Saudade de não ter nascido numa época em que as cartas eram a maior denúncia de um “crime”, por muitas vezes ainda não cometido, de um beijo não roubado, ganhado, dado.... de um abraço tímido, mas forte e muito bem quisto. Um “crime” quase perfeito, mas traído pelo mesmo “quase”.
Por tantos anos as palavras eram pérolas. Elas sangravam nas folhas de papel. Hoje elas apenas existem, sem forças e quase sem verdade. A cada dia é mais difícil reconhecer o significado do que se escreve, não pela caligrafia, por vezes “deformada”, mas pelas mentiras tão explícitas e tão bem camufladas, que não são apenas escritas, mas também ditas e muito bem autografadas. As cartas sempre são vivas, mesmo com passar dos anos. Elas tem voz, tem cheiro, são confissões. Nas cartas, quando há um erro, podemos até borrar, riscar, mas jamais totalmente apagar. São como cicatrizes reais que tatuam as “peles de papel”. A verdade expressada por ente singelo objeto, assusta quem não está acostumado a viver, a errar, a ser o que o tempo, naquele momento, o propiciou.
Eu ainda sonho com o dia em que haverá o resgate dessas cartas “escritas à mão”, na luta de tentarem vencer e perder para si mesmas. Eu espero que a valorização da timidez aconteça... Que os versos só descrevam belezas... Que nasçam mais almas poetas... Que o cantar seja sempre confissão. Que a dança revele almas em ascensão e que a escrita não morra de solidão.

por Brenda Oliveira.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

"EU NUNCA DISSE..."

"Não precisamos das palavras... elas são fugazes. Precisamos dos olhares...eles sabem gritar!!"- resposta que dei em um texto...muito bem escrito, de uma amiga louca...
"Somos loucas!!!"- foi o que ela disse...

por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Só, o vazio e ele...

Imagem:www.taxinewsbh.com.br

Quem estava só, sorria de mansinho, se espreguiçava devagarinho, até que o sol começasse a surgir. O vazio de tão pequenino, tornou-se forte e cheio de luz para dar. Ele...só escutava um samba, talvez estivesse numa corda bamba com medo de escorregar.
Quem está só, só se sente num infinito, como se fosse um barquinho beirando um grande mar. O vazio é um susto refletido sobre essas águas que ela não cansa de escutar. Águas que calam e falam à medida que ela prefere esperar. E ele, é claro, ainda na corda bamba fez menção de pular.
Quem estaria só, não sentia tanto pela vida, logo por que, pobrezinha, esqueceu-se de remar. Remar sentada na canoa, com o sol e vento em polpa, mas que custavam passar. O vazio é o tempo que tenta sufocar pensamentos e ressuscitar falsas respirações. Ele, que já havia se lançado, entrou no samba dizendo: “Preciso me encontrar”.
E quem não gosta de andar só, também ao fim do dia, já de noite, entra na roda de samba e descobre que ali também é um mar... Aquilo que por vezes estava vazio agora é música, é “linda!/ no que se apresenta/ o triste se ausenta”. Agora ele, já no embalo, na roda com os bambas entregou-se a noite, preferiu cantar com o mar.
O que era só conseguiu preencher àquilo que estava vazio. O que estava vazio incomodou-se e ele “com a esperança do meu coração/ pois já vai terminando o verão” conseguiu seguir no mesmo embalo da canção, provando o remo contra a maré, se perdendo do ritmo sem deixar vestígios, trazendo o sol, que outrora havia partido.
O “só”, não existe. O “vazio” até persiste, mas "ele", “num é que existe?! Ou não??”. Ah! vou sambar...


por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Medo

Imagem:
Cena do curta de animação: Meu Medo- Direção Murilo Hauser.

Há um grande medo de se ter esquecido, de ter ainda medo, de ter medo de tudo, de manter o medo do que já foi medo um dia, do que como uma maresia, nos fez arrepiar. Sei que esse medo que nos perde é recíproco. O medo também teme que tenham medo dele. Muitos de nós temos. E o medo caminha só e perdido. Ele é sempre “o rejeitado”.
Sei que toda manhã temos medo, medo que se confunde com preguiça. “Preguiça” de abrir os olhos, de levantar, de viver. Esse medo que se fantasia, consegue por alguns minutos, ser curtido e gostosamente, saboreado. O medo é como o chão frio que nos toca ao amanhecer. Ele é a ducha fria, que refresca nossa pele quente fazendo-nos retroceder.
Eu não entendo para que tanto medo...
Precisamos do medo da morte, mas esse eu não tenho. Tenho o medo da perda. Medo da solidão. Medo da prisão da vida. Tenho o medo de que um dia a vida acabe sendo perfeita demais e não me sobre espaço para ter medo. Procuramos a perfeição, mas temos medo de sermos perfeitos. Medo de sermos completos, de estarmos no controle. Tememos sermos os heróis. Não queremos o sacrifício.
Entendo que a profundidade e complexidade do medo, é uma teoria nunca estudada, nem gerada. Sei que o nada é um medo profundo. O tudo, um medo carente. A vida, um medo que falece a todo instante. É como se o medo tivesse anseio em sentir medo, mas ninguém permite que isso aconteça. Todos querem ter medo primeiro. Somos um tanto egoístas e o mundo não nos oferece um antídoto contra esta “droga”.
Só que eu gosto de ter medo. De querer ir e ele me frear. Não querer e o medo da solidão me entusiasmar. É gostoso se jogar deste precipício. Nadar nessas águas, vivendo as aventuras humanas de “ser”. Voando na brisa que embala a alma e nos aflige por não estarmos no controle. É imensa a agonia que sinto quando estou na direção, mas perfeito o medo de seguir na contramão, remando contra a maré, quebrando as linhas da costura.
por Brenda Oliveira.