segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Encontros

Imagem: Alba

Passado e presente unidos. Esquinas e vilas perdidas. Solidão e presença contida. O primeiro olhar, o primeiro medo de perder. O olhar que transfere além da verdade, uma alma serena e de pura arte. A artista que gela, que sofre e que por momentos sai de órbita. Esqueceu-se como andar, como se portar.
O que é certo parece ser o pior dos enganos. Pois a vida vai passando e a distância só aumenta. Doce essência que destrói, que constrói e que faz ela se perder. A arte que um dia quis ser, agora é dúvida. A mais bela rosa do jardim foi arrancada e os ferimentos que os espinhos deixaram, serão difíceis de cicatrizar.
Tudo parece ser tão certo, mas nem ela entende tamanha certeza. Seu coração ainda é calma, mas algo em sua alma a fez chorar. Acredito que precisará de muitos dias, talvez anos para entender essa “quase” ou verdadeira dor. Lágrimas lançadas na doçura e calmaria das águas, que fingem tranquilidade para conseguirem se sustentar.
Como entender um ser artista que tanto se entrega e se livra do apego com o ar, com o mar, com a vida? Há tanta doçura e poesia que ela se sente perdida, sufocada e por amor busca o “querer” de sua entrega, busca por este mesmo amor, ser roubada, sequestrada, encarcerada e jamais encontrada por outro alguém que não seja ele...
A arte não conseguiu entender a chegada e a partida. Nem os maiores dos artistas conseguiram fragmentar, deformar e entender este estado de coragem e covardia em que ela se rendia, mesmo quando tentava fugir. Pouco tempo para tanto tempo querendo estar, simplesmente estar. Pareceu uma vida perdida, os segundos sem encontros. Ela não quer viver o adeus, prefere a presença, o presente, o poder.
Já quase próximo de tudo vir a ser passado, ela sofre as escondidas e revela um sorriso, um doce riso, sem vontade de ser feliz. Tudo ao redor passa, o passado passa mais de uma vez e essa história passará, mas a arte é um bloco de gelo, há de fazer parar, só não se sabe quando. O momento que a presenteia será o ladrão de segundos mais tarde, será uma dor de verdade que a transformará num abismo sem fim.
Ele pode pensar que não seja verdade, que seja apenas vaidade, mas quem sabe o que se vive por cá? Quem sabe o que se quis saber? Como se quis amar? Não há como entender o por que da alma, não há como saber... não há o que saber. Apenas sentir o momento da despedida, a dor da partida, um dia que ela não conseguiu viver. Um dia que fique na esperança do reencontro.

por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Canção das borboletas

Imagem: İzinsiz Gösteri6

Sinto uma ligeira dor no peito, um breve arrepio nos pelos, com a doce sensação que irei voar. Eu andei por todo o dia amando o que não existia, para ter a emoção de navegar num mar (não me limitei às águas, é claro). Naveguei pelas brechas que o ar deixava. Naveguei na imperfeição da calma. Eu naveguei.
Fui ao encontro das asas, que um dia desses eu perdi. Eu corria e quase que instintivamente, subia, me colocando entre as nuvens no azul de um dia. Querendo que a noite se revelasse e me deixasse descansar em paz. Como se a dureza da vida fosse esquecida e eu, simplesmente, bailasse na brisa que me confundia, em ser “eu” ou ser “mar”.
As asas foram rasgando minha alma, até que atingissem e sangrassem a pele, beirando meu coração. Neste momento a batida foi outra. A canção ficou rouca e a borboleta, por um momento, esqueceu-se de voar. Mas ela ainda assim, bailava nas asas pintadas de sangue e marfim, canções de sonhos que nunca quis que tivessem fim. Canções de verdade, que vão além da arte de fazer brotar ventos e contentamentos.
No momento que a noite tentava me seduzir, eu me deixei ir, para tentar dançar a última canção. Os homens demoram 9 meses para nascer, lembrando que toda regra pode ser quebrada, mas a da borboleta não. Sua vida é uma precisão-imprecisa, aquela certeza-incerta de alçar voou, de perder as asas e ser esquecida numa possa d’água, como quem nunca soube voar. Sendo um ‘alguém’ que nunca voou.


 por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

[ANTECIPO-ME]


“E na estrada esplendente do futuro”...

Penso por tantas vezes que eu procurei uma palavra certa. Viver à risca o risco de viver. Entendendo que a natureza humana é réu num crime inocente. Culpada, na morte de quem não matou. Penalizada por viver esperando a esperança se concretizar.
Estar numa batalha tão brutal, faz dessa cidade inóspita um latente habitat, que por anos é esquecimento frente ao poder público. Estamos a 47 anos sufocados. Entre uma média de mortes e massacres escondidos por essa oligarquia, pelo império de facínoras enraizados no nosso Maranhão.
Temo que em poucos meses, dias ou segundos a menina, Ana, assassinada; os ônibus que foram queimados; as pessoas que não saiam de suas casas, sejam esquecidas. E tudo não passe de mais uma lenda, como a da nossa “serpente” que dorme. Serpente que não teve e continua não tendo direito á educação, a saneamento básico e ao voto secreto.
Acho que devemos trabalhar num sistema de troca com o governo: “quantas lagostas por um verdadeiro investimento educacional, por exemplo?? Hã?! Quantas, entre tantas outras barbaridades teremos que gritar para o Brasil, na tentativa desesperada por liberdade? Ei. Ainda não, espero que até o final deste texto estejamos conscientes desta realidade que muito nos assombra. Ela sempre nos assombrou.
Presos. Presos, somos todos nós, o que difere-nos dos "presos tradicionais" é o presídio em que estamos e pelo fato de não termos crime algum, a não ser o da busca por um Estado, verdadeiramente, brasileiro, vivo e inserido nas cores e no sangue verde-amarelo. Estamos mortos? Talvez sim. Mais de 60 mortes já aconteceram nas penitenciarias maranhenses. Ergástulo que foi deixado de lado. A muito que não são sinônimos de reabilitação. Quem entra, sai pior, ou nem precisa sair para acabar consigo e com tantos outros “soltos” e sonhadores.
É. Meus caros, 2014 “chegou, chegando”, mas infelizmente, da pior maneira possível. Mas calma... teremos “130 milhões” para reestruturar os presídios do Maranhão... Será? Será que é só isso que precisamos? Enquanto isso... somos ninados, colocam-nos para dormir. O gigante dormirá até quando? Essa serpente continuará sendo só lenda?
A presidenta está ciente de tudo que se passa aqui, mas quem liga pra isso? Não adianta saber e fazer pouco caso. Saber e cuspir na nossa cara, pois só quem vive aqui sabe o que foi, o que está sendo e o que será o Maranhão, se tudo continuar caminhando conforme esta fúnebre canção, que não cansa de soar...

“Salve Pátria, Pátria amada.
Maranhão, Maranhão, berço de heróis”.

por Brenda Oliveira.