Pintura: Coração de
árvore/por Cecília Al.
Mas amo solto,
largado, perdido de mim. Amo simples, simplesmente, no vazio ou no que há de
mais profundo. Amo muito, mas amo pouco. Amor raro, amor louco. Amor sincero e
eterno, amor finito. Amor no riso, amor no pranto. Amor no encanto e na
realidade.
Eu amo, mas
vejo que meu amor é livre demais, é doce demais, se lançando sem medo da queda.
Queda que ama, queda que canta a mais bela canção de amor. Amor que se recita
por lábios fortes num meio dia e que ama os olhos do alguém. Alguém que ama
pouco, ama raso, mesmo amando louco.
Loucura que
sana, loucura que ama a seriedade do seu amor. Que com o olhar me rouba e
cansa só de imaginar... Essa imaginação perversa, louca também, ora essa, por que
as borboletas também fazem amor. Amor como vento, brisa, que acalma e arrepia
os corpos loucos, cheios de amor em mim.
Esse amar
costuma amargar o gosto da minha boca. A boca se nega a não gostar, pois é mais
interessante beijar. Beijar bocas, beijar as loucas vontades que existem em
mim. Vontades que não são minhas, talvez sejam impostas, roubadas ou perdidas
por alguém que não mais amou. Ou amou muito, porém amou, relativamente pouco,
torto, que nunca se recuperou.
Recuperação que
não existe, se tratando de amor. O amor nunca persiste quando sente que só há
amor. Ele insiste quando a chama quer apagar. Ele grita, quando o surdo teima
não escutar. Ele se irrita quando perder parece ser o grande vício e quando o
querer se torna o grande precipício. Pois é na ameaça da queda que o suspiro se
cria, o gemido se solta e o prazer se fortalece.
Amar pode
parecer fraqueza, até admito que seja, mas amar é o melhor castigo, a melhor
tortura, o melhor calabouço. Essa prisão alimenta os desejos, arrepia os pelos
e faz-nos ser aquilo que só o outro haverá de descobrir numa noite qualquer...
num vazio, talvez... numa mudança de temperamento que apenas as mãos haverão de
sentir e os olhos não mais verão.
Eu até amo,
porque a ausência me faz ser incompleta, a presença me desespera... é quando a timidez
se faz. Amo quando o delírio vai além da inocência, quando tua presença vai
além do poder. Amar é não ter a certeza do outro, mesmo quando o outro é a
única certeza que se pode ter. Quando eu amo, o vejo num gesto, num olhar, num
reflexo, pois são os detalhes que me fazem lembrar.
É muito
estranho saber que não estou no comando, que posso estar entrando num grande
engano quando estou a amar, mas a poesia que é escrita na minha vida se torna
mais forte que o meu desejo de apenas sorrir, pois sei que a dor faz parte, ela
não é só metade. É o todo do amor, seja no prazer, seja no sofrimento, ela
existe e se perpetua a cada segundo que se caminha lado a lado, quando se pensa
em ser algo, ao lado do alguém.
Chego até a
pensar que “AMOR” pode ser interpretado como um terrível palavrão, isso quando
é cuspido, escarrado, quando maldito ou nunca pronunciado por aquele que se
tem AMOR... Esse palavrão eu nego, para ele sou surda, sou nada, sou água: sem
cor, sem cheiro, sem sabor algum. Desse amor quero apenas a distância, quero
apenas o adeus.
Hoje tenho a
certeza que quero continuar amando... mesmo parecendo um engano, isso me faz
ter a certeza do caminho certo... loucura? Acredito que jamais caminhei por
acaso. Acredito que todo mito surgiu de algum ‘verdadeiro’ fato, que as lendas
são passados que não vi, não vivi e ninguém sabe ao certo se existiram, então
não tenho provas a favor, nem contra. Assim mesmo é o meu amar.
Amar na
realidade, na fantasia. A conquista deve ser uma realidade ampliada, mesmo que
ela liberte o amor, e entenda que nesse caso estar livre não é o mais sadio dos
desejos. Por isso espero ter um “prisioneiro” que faça delitos o dia inteiro,
para que se mantenha preso, por simplesmente querer. Eu até amo... mas amo
nessa loucura de não saber amar, talvez... Amo, pois sei que sem faltas a
poesia não causaria tanto querer... Amo quando quero ter e mesmo não tendo, pois
sei que quero e assim eu até chego a amar...
por
Brenda Oliveira.