segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ENTRE NUVENS

Hoje parei, simplesmente parei e assim pude olhar para o céu e ver belas nuvens, levemente postas no ar, levemente desenhadas neste céu, mas sem brilho, sem encanto, sofridas e detidas como que por engano. Um amar perdido e solto como o vento, louco e sincero como o tempo.
Elas pareciam frágeis, mas eram fortes no tocar, fortes no amar. Carregavam intensidade nas mãos, mas o céu hoje não está tão estrelado, está pouco carinhoso, muito calmo e assim elas não conseguem amar. Só sabem amar através do medo, através do desespero de quem não entende, de quem chora e a faz chorar, para assim o romance ser perfeito. Nuvens carregadas de paixão em um, talvez, peito.
A paixão é um sentimento que arrebata, que rasga e que pode até matar. É através dela que as nuvens ousam se chocar e gritar por terem medo daquele ter sido o último sentido, o último suspiro, pedido de amor. Por isso, as vezes preferem amar como hoje, no silêncio perdido, com abraços quase sem sentido, para que o outro não sinta dor e o céu seja o caminho para as estrelas.
Estrelas que hoje parecem estar tímidas, contidas. Estão como olhos perdidos em transe, mergulhados em sentimentos vãos. Olhos opacos. Estrelas que caem ao chão por estarem tão cheias de emoção e não conseguirem suportar os amantes que por ali estão. Não conseguem se quer perder o hábito de só quererem brilhar, sem respeitar o romance que não as pertence, mas que as esconde e que as entende.
É no vazio da noite, devido a um silêncio embutido no sorriso alheio, que elas escondem seus toques, seus sons, suas sensações, para que a calma pareça rara, como assim é, entre nuvens que se tocam apenas quando as estrelas se vão, pouco antes do amanhecer, segundos antes delas terem que desaparecer ou fingir indiferença. Essa é a realidade deste céu, uma beleza que não permite o amar.
por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

PALAVRAS SOBRE...



Penso que todos olham para a vida e a imaginam ser uma caixa cheia de fitas. A cada dia que passa um laço se desfaz. A cada instante uma vida se vai. Em cada toque o presente é refeito, as fitas são transformadas em lindos laços e a surpresa causa momentos de dor e desespero.
Os momentos são sempre suspeitos de crimes ainda não cometidos. São preenchimentos dos vazios. São finalizações do que ainda é infinito. São passados, presentes e sorrisos descontentes. Eles são apenas instantes vividos ou perdidos. São frustrantes. Fruídos. São borboletas sem chão.
A vida que sempre ousa afirmar-nos: Sou passageira, por vezes insiste em não passar, em só ficar e não deixar-se ir, apenas abandonar-se por cá e fingir ter razão, em ser a solução, mesmo quando o nada é o seu maior dizer, mesmo quando a poesia é o resultado da morte de uma louca paixão. É triste, eu sei, mas acontece muito por aí.
Vejo a vida como um grande bingo, ou algo parecido. Somos sorteados diariamente para vivermos felizes ou não, amantes ou não, coloridos ou apenas em preto e branco, sem emoções, sem as tais das paixões. É sempre injusto esse sorteio, mas muitos não ligam e preferem sempre apostar, aí, já não sei se isso é loucura ou sanidade ferida.
Feras são muitos de nós, mas esquecidas de como caçar, tornando-se apenas presas gordas, entregando-se sem medo aos seus alimentos para alimentá-los, pena que isso não acontece por amor. A vida é um consumo premeditado, exacerbado e até a nossa morte tem que dar lucro, pra quem? Talvez para nós mesmos, ou para a própria morte. É apenas saber dar o devido fim.

por Brenda Oliveira.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ENTRE ENCONTROS E DESENCONTROS


Às vezes penso que o que falo não é consentido pelo que há em meu coração. Eu me lembro de uma noite, de uma pessoa, de um momento. Lembro-me de uma parada, que talvez para ele tenha caído no esquecimento, mas como entender isso em mim?! Eu sei que uma coisa eu disse, mas confusa eu sempre estive, agora já sei quem sou.
Lembro... de um movimento, leve, suave. Lembro-me de um lenço. Lembro-me da brincadeira com uma doce menina na porta da dança, eu me lembro. Lembro-me do seu sorriso, do seu olhar, da sua brincadeira de dança, eu bem me lembro. Eu até tentei esquecer, mas sinceramente nunca entendi o que se passou por nós, nunca entendi tamanha vontade de estar perto, de não dizer o temido adeus.
Mas mesmo assim, ainda lembro. Lembro-me de diversas manhãs, por uma semana, eu lembro. Lembro-me de uma noite que não saiu como planejado (risos), eu lembro. Lembro-me de você na porta do quarto. Lembro-me da minha timidez. Lembro-me do tocar dos tambores e sinceramente, espero que não tenham sido pela ultima vez. Lembro-me da sua curiosidade, verdadeira ou só para manter uma constante no diálogo. Lembro-me do seu olhar, ah! Eu lembro.
Sempre me lembro do samba. Sempre me lembro da partida, de um sofrimento não entendido por mim. Espero que não me entendas mal, espero que bem entendas o que digo. Lembro-me da nossa dança. Lembro-me das risadas dos amigos por isso, eu bem lembro. Lembro-me de você meio sem jeito, um tanto tímido, eu lembro.
Agora, vem o que tanto lembro e o que não consigo esquecer... Lembro-me dos olhos nos olhos, de um breve silêncio, com segundos quase eternos, de um mundo pequeno para nós dois. Lembro-me de ter que ir embora. Lembro e ainda sinto o seu abraço. Sinto. Sinto em ter te deixado, em não ter ficado, em ter simplesmente ido.
Não esqueço as palavras, sempre tão bem descritivas, de momentos que você viveu e quis compartilhar. Eu não me esqueci do encontro, da espera pelo reencontro. Não esqueço as risadas, as opiniões sobre o teatro. Lembro-me das ruas, das caminhadas. Lembro-me do desvio, de uma lomba?!, eu bem lembro. Só que não quero que tudo isso fique no passado. Não quero pensar que não mais reviverei isso tudo. Não quero pensar que talvez você já tenha esquecido o caminho e as ruas tenham mudado de lugar.
Só espero que tudo tenha sempre a mesma verdade do primeiro olhar, a mesma verdade encontrada naqueles olhos, no momento da partida. Só quero que sempre tenha a verdade, nunca vaidade e nem idealização. Que apenas sejamos, façamos... e vivamos sendo. Simplesmente sendo um homem e uma mulher que esperam por um belo reencontro, seja ele para as palavras, para os olhos ou para as sensações por inteiro.
Acredito que tudo isso, ainda é nada. Que o nada é apenas um pouco do tudo que tentei começar a sentir. Que o tudo é metade quando as distâncias dão-se as mãos.

por Brenda Oliveira.