KOLANKIEWICZ,
Leszek. Resposta a Stanislavski. Folhetim. n. 9, p. 03- 21, jan/ abr. 2001.
Reunidos em sala de aula, com uma ideia da professora
trabalhamos os questionamentos:
CONCORDO com Stanislavski- por quê?
DISCORDO- com Stanislavski- por quê?
“Certas perguntas não tem sentido. ‘Stanislavski é importante para o
novo teatro?’ Não sei.” (GROTOWSKI)
Em muitos momentos nos questionamos
se a prática de métodos e formas já utilizados por grandes nomes do teatro são
importantes, se são eficazes, mas o que rege esse questionamento? Será que
esses métodos tem prazo de validade? Assim como Grotowski, digo que não sei,
nós realmente não sabemos.
Como esclarece Grotowski no texto
referido, o que deve nos moldar quanto a importância dos métodos de
Stanislawski é o aproveitamento, do mesmo, diante de nossas necessidades.
Grotowski apresenta Stanislavski como
o marco inicial e estimulador de seu fazer teatral, isso não o foge da
possibilidade de discordar ou não preferir aplicar certas metodologias. Quando
tentamos julgar a importância de Stanislavski pomos voluntariamente na balança
a evolução do teatro e procuramos julgar se este ainda é inovador ou não, mas
esquecemos que “somos todos produtos da associação das nossas tradições e das
nossas necessidades”(GROTOWSKI), por isso a estética proposta a anos será
diferenciada da atual, são outros pensares, outros ‘combates’ políticos, por
exemplo.
Ele apresenta em sua fala, algo bem
intrigante, quando diz que acreditava no profissionalismo, mas depois de
tempos, não mais. Ele afirma que se prendia, puramente, a observação e
aplicação dos métodos utilizados por Stanislavski, mas observamos que não devemos
fazer assim, pois Stanislavski gerou um caminho que deve ser explorado cada vez
mais. Ele gerou perguntas importantes para que através de inquietações,
pudéssemos (digo isso pondo todos os
atores numa visão de inquietude perante a sua forma e métodos para criação)
buscar o aperfeiçoamento continuo em nossa profissão.
O próprio Stanislavski, ouso dizer,
preferia os alunos que fossem além da sua metodologia, que buscassem respostas
coerentes as sua inquietações pessoais. Nada de reprodução, mas sim,
reformulação de seus conceitos. Por isso afirma Grotowski:
“[...] não quero ter alunos. Quero companheiros de armas. Quero uma
fraternidade de armas. Quero pessoas afins, até aquelas que estão distantes de
mim e que- talvez- recebam impulsos da minha parte, mas que são estimuladas pela sua natureza (grifo feito pela autora).”(p.
6)
Esse pensamento de Grotowski, não foi
adquirido de imediato, pois quando iniciou os seus estudos na escola dramática
todo o seu alicerce era revestido e preenchido pelos conceitos, propostas e
ideias de Stanislavski, mas enfim chegou a conclusão no decorrer de sua
trajetória que ‘não existe sistema ideal que seja a chave da criatividade’, por
isso nomenclaturar algo como método pode vir a ser uma precipitação voluntária
não tão positiva.
Esse conceito de profissionalismo é
bem limitado, como descreve Grotowski, o teatro não tem mais a função que tinha
a anos atrás, hoje vivemos num discurso de que ir ao teatro é ser
intelectualmente educado, as pessoas não vão ao teatro pelo teatro, ou melhor,
não querem ir para refletir, mas sim ir por uma obrigação cultural imposta.
Seria tão ousado dizer que o teatro está em constante ruinas?
Nada de profissionalismo, ele pode
vir a ser um grande disfarce para o diletantismo, pois:
“Não se faz nada, mas se tem a convicção de fazer alguma coisa. Não mudei
de opinião a esse respeito. Só que a técnica também pode servir como disfarce.
Podemos dominar com o treinamento vários sistemas de capacidades, vários
expedientes, podemos ser grandes mestres e hábeis malabaristas neste campo para
mostrar a técnica, mas não revelar a nós mesmos”.(p. 8)
Esse ‘lutar contra o
profissionalismo’, como denomino, se refere a proposta continua de auto-reforma
e a inquietação de buscar o que é prático e concreto.
Stanislvski era o principal crítico
de seus métodos e propostas para a encenação e formação do ator. O método das
ações físicas, último meio proposto por ele, percebemos o quanto se questionou
quanto a descobertas precedentes. Neste método percebeu e destacou que: ‘os
sentimentos não dependem da nossa vontade’:
“[...] as ações físicas eram elementos de comportamento, eram ações
elementares verdadeiramente físicas, mas ligadas ao fato de reagir aos outros.
[...] Todas as forças elementares do corpo orientadas em direção a alguém ou em
direção a si mesmo: escutar, olhar, agir com o objeto, encontrar os pontos de
apoio- tudo isso é ação física”.(p. 10)
Essa busca de Stanislavski por uma
continua formação e aprimoramento de seus conceito é que dava grande
importância para os trabalhos de laboratórios e ensaios enquanto processos
criativos sem espectadores, a pesquisa e estudo de meios favoráveis e
consciência corporal sempre foram de seu interesse.
“Stanislavski acreditava que um treinamento positivo, indispensável para
os atores, deveria compor-se de tipos de exercícios distintos, relativamente
diferentes, ligados unicamente pelo fim comum”. (p. 11)
Mesmo acreditando serem
indispensáveis os exercícios, esse treinamento do ator, em certos momentos eram
deixados de lado, pois o que muito importava era a concentração no processo
apenas.
Percebemos por muitas vezes que
muitos diretores e atores mesmo, costumam pegar métodos já existentes e
aplicarem em seus processos sem modificações, ou apenas com breves detalhes
modificados, mas CUIDADO, métodos são elaborados a partir da necessidade vista
pelo diretor ou ator, para que se entenda e se aproxime da ideia proposta.
Métodos devem ser reformulados e não utilizados na integra, pois estes
são/foram originados em contextos sociais, momentos políticos diferentes dos
atuais, ou daqueles que visamos expor no processo.
Nos processos de Stanislavski ele
trabalhava com o ator uma proposta de exposição de uma reação pessoal, “se
alguém começava a esconder-se no automatismo e no perfeccionismo, procurávamos
imediatamente a maneira de manter as características particulares mas, ao mesmo
tempo superá-las, transformando-as em reação pessoal”(GROTOWSKI). Os atores
devem ser precisos e espontâneos. Devem procurar a sinceridade e descoberta na
presença individual do ator, para daí encontrar a todos diretamente.
Para conseguirem essas duas
características acima, primeiramente o ator deve buscar em si, logo por que:
“Não é nunca a relação com um grupo. Trata-se da relação de cada um: com
você, você e você. Mas não em relação a vocês. Porque, se queremos procurar uma
relação deste tipo com um grupo, caímos no convencional”. (p. 14)
Em grupo geramos ‘o impulso’ que é uma resposta mútua de
um ator com o parceiro:
“O impulso não existe sem o parceiro. Não no sentido do parceiro na
representação, mas no sentido de uma outra existência humana. [...]o impulso
existe sempre na presença de. [...]
na ação respondo à ‘imagem’ que projeto e ao parceiro”. (p. 17)
O ator para Stanislavski deve traçar,
o que ele chama de: linha de ação, linha essa ligada a ação física, proposta da
qual discordava Grotovski:
“Pessoalmente, prefiro uma partitura baseada, por um lado, no fluir dos
impulsos e, por outro, no princípio da organização” (p. 15)
Resumindo, é possível ser orgânico,
espontâneo, mesmo diante das partituras e marcações.
Apesar de Stanislavski ter superado o seu
método da memória emotiva, pela ação física, isso não o impediu de
quando bem achar necessário voltar a utiliza-la, assim devemos fazer quando
necessário e conveniente para um processo adequá-lo em certos métodos.
Stanislavski trabalhava com a ideia
da memória emotiva: “o que é você?- ato/ forma”, já Grotowski trabalha com o
corpo-memória e o corpo-vida, fazendo o ator refletir sobre momentos isolados
já vividos em sua vida e naquilo que ainda não foi vivido, para transpor em
cena.
As palavras em cena importam, mas o
registro corporal, pré-expressivo do ator consegue dizer além das palavras,
está ai a chave tão importante que revela o grande interesse de investigação
nessa área. Mas também só ação não significa nada, devemos ir além e unir esses
grandes alicerces da interpretação do ator. Devemos sempre estudar os métodos e
transpô-los para as nossas necessidades, isso sempre que aquele determinado
método não for eficaz. Temos que perceber que não há método melhor ou mais
seguro para se chegar a perfeição, pois cada grupo, cada pessoa se encontra num
‘meio’ num estado diferente e que deve ser estudado em suas particularidades
para seu crescimento enquanto ator.
Registro referente à aula do dia 11.09.13
por
Brenda Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário